sábado, 11 de dezembro de 2010

Selva - Meu lar amargo lar

Prefiro sempre sentar e ler um bom livro, folhear uma revista do meu interesse, papear com amigos, passar um tempo buscando poesias nas páginas da internet ou sentada nos puffs das livrarias habituais. Sorrio descontraídamente todas as manhãs de sexta, antes da jornada começar. Gosto do meu chopp com amigos no final de semana, de ouvir minhas músicas preferidas e tenho uma rotina como a da maioria das pessoas. Quando faço algo assim tão simples e tão essencial penso sempre que gostaria que a maioria delas entendessem o que é a felicidade.

Sou uma pessoa de alma leve, mas sinto que apesar de fazer coisas simples e manter uma vida saudável,a maldade do mundo anda me fazendo muito mal. E embora eu seja até muito compreensiva com as falhas alheias, por muitos momentos do dia me pergunto os porquês. Por que as pessoas são assim? Por que fazem isto ou aquilo? Por que o mundo caminha cada vez mais para esta crueldade sem tamanho?

Diz um amigo meu que não entende porque as pessoas boas muitas vezes correm atrás dos sonhos, trabalham, estudam, são honestas e chegam num ponto em que apesar de todo esforço nada conseguem e outras que puxam o tapete, que fazem de tudo para outro se dar mal, que sentem inveja, que têm sentimentos mesquinhos dentro de si conseguem chegar onde querem. Eu também não entendo. Alguns podem vir com razões filosóficas, outros com respostas ligadas às suas crenças, mas a verdade é que você jamais conseguirá explicar o que é justo nesta vida à família de um torcedor que teve seu ente morto a pauladas por um bando depois de uma partida de futebol.


Você jamais conseguirá explicar porque alguém se esconde atrás de algo chamado intolerância e agride de maneira covarde o outro que julga ser "diferente" dele.


Tantas e tantas crueldades que acontecem por esta Terra que nem é preciso exemplificar aqui, todo mundo sabe, e parece que ninguém está nem aí. Ver um idoso sendo agredido cruelmente por alguém acaba com meu dia e me faz sentir pequena. Me dá um vazio dentro do peito. Não me sinto gente se noto onde esta gente é capaz de chegar. Sinto-me um ser quase inanimado, estático, inexistente. Sinto na mesma hora um arrepio de tristeza e a certeza de que eu, assim como muitos que pensam como eu, não sou daqui. Não posso fazer parte disto.


Existem coisas que nem toda a psicologia, a filosofia e crenças do mundo conseguem racionalizar. A mim, cabe continuar nesta selva, tentando ser cada dia um pouco melhor que no dia anterior, dizendo bom dia no elevador, relevando o egoísmo alheio, tratando bem as pessoas, ajudando uma pessoa que não enxerga a atravessar a rua e assim, seguir a vida. Resta-me buscar a minha felicidade e fazer do meu mundinho à parte o melhor que posso, enquanto o resto do planeta se mata. Continuarei acordando cedo todos os dias, indo trabalhar, chegando tarde, suando a camisa enquanto tem gente levando cafézinho para o chefe e maquinando como tirar o inimigo do caminho. Sigo ganhando meu pão honestamente enquanto tem gente aprimorando golpes que acabam com a vida das vítimas. Penso em encontrar alguém legal enquanto tem gente fazendo do relacionamento um negócio. Penso em mandar mensagens de bom dia para os amigos saberem que nunca os esqueço enquanto tem gente arquitetando a morte do vizinho, de um parente. Penso em deixar livre meus passarinhos enquanto tem gente matando animais, acabando com tudo por uns bons trocados.


Não entendo muito bem qual a lógica da selva, mas sei que ela é muito maior que meu coração bom. Assim, enquanto o mundo está acabando ou já acabou, eu escrevo. Sei que não aceito, mas sugerir mais amor seria motivo de piada. E talvez esta, seja mesmo a única solução. Tão simples quanto os motivos que fazem a humanidade caminhar para o obscuro.


A solução é além de ensinar o ser humano a amar, ensinar o ser humano a se amar. As pessoas precisam de uma vez por todas resolver suas pendengas pessoais e adquirirem uma inteligência emocional soberana, que as faça passar por este mundo de um jeito melhor. Elas precisam aprender o equilíbrio, a justiça, a solidariedade, a paciência e se quiserem ser melhor do que os outros, que o façam estudando, trabalhando dignamente. Elas precisam ser ensinadas antes de ter inveja, os caminhos saudáveis para chegarem ao que gostariam de ser. É preciso ensinar a inclusão e não a exclusão. É preciso ensinar que mais do que ajudar um cadeirante a descer as escadas, é preciso conversar, fazer amizade, torna-lo parte do todo. Mas falar em sentimentalismos num mundo onde o capitalismo, as aparências, o status e o faz de conta imperam tornam-me a mais louca de todos. Que a minha loucura seja um dia entendida.


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